domingo, 16 de janeiro de 2011

Sine Fine


Sinto uma ausência que não sei explicar.

Não sei se de dias que tive ou se de outros que nunca terei.

É como se estivesse de mãos dadas com o verão,

Sem recordar-me dos beijos da primavera.


Aonde porventura perdi minha amante,

E quem seria o usurpador de minhas memórias?

Elas realmente existiram e foram levadas

ou são apenas um algo que quer existir,

uma pulsão de vida que quer respirar?


Sinto-me vago e incerto,

Porém vez ou outra cerro meus olhos

E vejo seus olhos.

Seriam olhos que querem existir, ou apenas

O chamado de minha amante perdida?


Ouço o clamor de minhas memórias ao longe,

Como os gritos tênues de uma criança perdida.

Quero salva-las, mas não existem direções a se percorrer.

Tenho que me lembrar.


Sinto o tempo escorrendo,

como o sangue que leva gota a gota a felicidade dos mortos.

Então quero me desesperar,

Pois não desejo perder o que está perdido.


Tento me lembrar de você,

E enquanto te busco no vazio do que me restou,

Percebo que sei quem tu és.

E que desde o principio ignorei que sempre soube.

Pois cerrei meus olhos para não ver a verdade

Como um ultimo esforço de vida,

Uma pulsão derradeira.


Sinto a plenitude da verdade,

O sabor adstringente de quem admite a própria vergonha.

Preciso admitir,

nunca existi.

Sou parte de tua imaginação.

Talvez apenas um sentimento ou sensação que quis florescer,

Ter vida própria.


Teus olhos fechados agora fazem sentido,

Pois levaram consigo a luz da primavera que nunca passamos juntos,

Selou para sempre a saída de tua alma.

E hoje permaneço aqui esquecido, confinado dentro de ti,

Perdendo-me pouco a pouco,

Sem que nunca tomes ciência de minha existência,

Apenas eu e as saudades de mim.

-Bira-


25 de janeiro de 2011

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

O poço

Por mais que algumas pessoas tentem, elas não irão conseguir enxergar além de si mesmas. Nós sabemos os conflitos e contrastes que habitam nossa alma. E sentimos diariamente o mundo que arrastamos acorrentado em nossa perna. Todavia não conseguimos ver isso em outras pessoas. São tão internos os processos da mente que infelizmente só nos resta o corpo para julgarmos. E embora, muitas vezes, nossas aflições transbordem pelos nossos corpos construindo semblantes e expressões faciais decadentes, estamos tão imersos em nós mesmos que não nos apercebemos desses detalhes lúgubres que estampam o outro. Todos caem! É sinistro como diante de nossa vida pernas enfraquecem e desmoronam com suas vidas e nada percebemos. E quanto as almas penadas que confundimos com corpos e passam por nós como se estivessem vivas e passamos por elas como se estivessem vivas. Olhe para o chão, se um dia você tiver tempo. Haverão muitos mortos apodrecidos lá. Mas talvez possamos identificar os agonizantes. Afinal, é mais fácil perceber anjos caídos do que faces de tristeza. Eu sei, não me interprete mal. Não estou te julgando por você olhar apenas pra dentro do seu poço, fundo e triste. Você tem o direito de desmoronar também. Todos caem dentro de seus poços. Todos se abandonam em sua própria solidão. Eu conheço bem essa sensação. Chama-se vazio. É a borracha com a qual estamos descolorindo a vida e as pessoas ao nosso redor. Isso, porque queremos ficar completos de coisa alguma. No final, nossa alma mostrou-se pequena para tudo que foi colocado dentro dela. Somos mentes que de tão sobrecarregadas e cansadas escolhemos torna-se apáticos em nossa existência . É isso ou ser consumido até a exaustão.
- Bira -
Petrolina, 8 de janeiro de 2009

sábado, 13 de dezembro de 2008

Abra os olhos



Eu desejo o fim.

O fim rápido e indolor.

Já tentei ser o alto da montanha gelada,

o espirito livre

e a decadence.

Não obtive exito.

Agora estou tentando ser o fim,

meu amigo, o fim.

Um estado verdadeiro de não ser

nem estar.

Talvez, a forma mais pura de liberdade,

ou de decadência, dirião alguns.

O que importa,

significado irrelevante.

Tão irrelevante quanto precisar ou buscar

nesta encenação sacal e repetitiva que chamamos de vida.

As imagens falsas do mesmo canal.

Somos tão de mentira, que nos degradamos e desmoronamos

até restar apenas pó.

Todos teremos essa sorte um dia.

Apenas, desejo as últimas palavras, quando me olharem

gelado, liberto e decadente:

- Bom dia meu amigo. Não precisas mais abrir teus olhos, o fim chegou.

- Bira –

13 de dezembro de 2008, 2:30

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

The colors of darkness



Ouço um grito de liberdade ao crepúsculo.


As sombras vem afagar meu coração compartido...


A escuridão forra a cama onde deitarei minha mente já tão fatigada....


Bem-vindos...


Sentem-se...


Falaremos de coisas tolas...


Sentiremos como cana no campo...


Sozinhos, rodeados por iguais...


Não há nada mais angustiante que fitar a fumaça do último cigarro da noite...


AAAh o dia... Porque sempre insiste em nascer...


Hoje a noite poderia durar um momento de eternidade...


Me levando para onde eu realmente sempre quis estar...


Com quem eu sempre...


Sendo quem eu sempre...


Destas coisas já não sei...


Talvez nunca soube...

segunda-feira, 4 de agosto de 2008

Nada a declarar


Nada eu tenho,

nada é meu.

Nada a perder.

Quando eu cheguei já existia,

e quando eu me for continuará.

Sem relevância, assim vivo,

como uma passagem apenas.

Sem apego.

Porque nada há para se desapegar,

nem a mim mesmo,

pois não me pertenço.

Sou apenas um emprestimo,

uma locação espacial,

para que meu nada imaterial permaneça uns dias por aí.

E quando meu tempo terminar,

entrego como soldo minhas experiências à terra

e como juros minhas memórias aos vermes.

Retornando por fim, ao esquecimento de onde vim.

-Bira-

sábado, 12 de julho de 2008

A primavera retornou em julho


A primavera retornou em julho
e não encontrou perfeita a sua última memória.
Os dias envelheceram,
porque o tempo não perdoa a seus próprios companheiros.
O perfume agarrado aos seu cabelos, relutante em partir,
seguiu-a até perder-se para sempre.
Apenas as saudades trilharam por seu caminho distante.
A primavera retornou
e tímida, estendeu sobre a paisagem alguns riscos de luz.
Desejou novamente seus campos abandonados
e pediu que as rosas
carregassem novamente o cheiro dos amanheceres ensolarados.
Até os ventos esquecidos
trouxeram seus pássaros descontentes.
A primavera
apontou no horizonte e sorriu,
um riso de quem se desculpa.
Despertou-nos com a sua claridade
enquanto descarregava os sonhos que distantes fora buscar.
Refloresceu a natureza e
fez brotar sementes despreoculpadas.
As estações passam
e com elas o deslumbre que as acompanham.
E se há uma verdade,
é que depois que um dia nasce
há sempre um entardecer.
E embora possa caminhar
na confiança desse dia claro,
não deixo de carregar comigo esta tristeza,
de que essa primavera também passará.


- Bira -

domingo, 29 de junho de 2008

"você é um homem ou um balde de Jaca"
- frase celebre que inspirou a criação do movimento Jaquista e o texto a baixo escrito por Rafael em homenagem a Bira -