Sinto uma ausência que não sei explicar.
Não sei se de dias que tive ou se de outros que nunca terei.
É como se estivesse de mãos dadas com o verão,
Sem recordar-me dos beijos da primavera.
Aonde porventura perdi minha amante,
E quem seria o usurpador de minhas memórias?
Elas realmente existiram e foram levadas
ou são apenas um algo que quer existir,
uma pulsão de vida que quer respirar?
Sinto-me vago e incerto,
Porém vez ou outra cerro meus olhos
E vejo seus olhos.
Seriam olhos que querem existir, ou apenas
O chamado de minha amante perdida?
Ouço o clamor de minhas memórias ao longe,
Como os gritos tênues de uma criança perdida.
Quero salva-las, mas não existem direções a se percorrer.
Tenho que me lembrar.
Sinto o tempo escorrendo,
como o sangue que leva gota a gota a felicidade dos mortos.
Então quero me desesperar,
Pois não desejo perder o que está perdido.
Tento me lembrar de você,
E enquanto te busco no vazio do que me restou,
Percebo que sei quem tu és.
E que desde o principio ignorei que sempre soube.
Pois cerrei meus olhos para não ver a verdade
Como um ultimo esforço de vida,
Uma pulsão derradeira.
Sinto a plenitude da verdade,
O sabor adstringente de quem admite a própria vergonha.
Preciso admitir,
nunca existi.
Sou parte de tua imaginação.
Talvez apenas um sentimento ou sensação que quis florescer,
Ter vida própria.
Teus olhos fechados agora fazem sentido,
Pois levaram consigo a luz da primavera que nunca passamos juntos,
Selou para sempre a saída de tua alma.
E hoje permaneço aqui esquecido, confinado dentro de ti,
Perdendo-me pouco a pouco,
Sem que nunca tomes ciência de minha existência,
Apenas eu e as saudades de mim.
-Bira-
25 de janeiro de 2011